Ontem eu tive o maior exemplo de família que eu poderia ter visto na face da terra. Sabe aquelas famílias grandes, com avô e avó, oito filhos e muitos netos? Eu conheço uma! E posso dizer que é a família mais unida que eu já vi na vida. Uma coisa que eu admiro demais e que, infelizmente, nunca tive! Tá certo que tenho um pai e uma mãe, tenho tudo o que eu quero e o que não quero também, nunca me faltou nada de nada. Mas o fato de nunca escutar um 'eu te amo' de nenhum dos dois me afeta demais. Não tenho irmãos e posso dizer que sou uma pessoa sozinha! Sim, eu sei que tenho muitos e muitos primos e que somos mais ou menos unidos... mas eu queria irmãos! Do meu próprio sangue, para rirem comigo à noite de alguma besteira, para dizer boa noite, para ser a primeira pessoa que eu veria no dia e dizer bom dia, para brigar e poder colocar a culpa ou levar a culpa junto, para ter alguém com quem contar em algum momento bom e mais ainda nos ruins! Mas não tenho! E eu sinto falta disso... sim, eu sinto falta de uma coisa que não tenho e isso chega a ser mais triste do que sentir falta de alguma coisa que já se tem. Sim, eu e meu pai rimos juntos às vezes assistindo televisão junto e discutimos sobre como foi o jogo do Grêmio de ontem. Mas as brigas que acontecem não são boas. No final a culpa é sempre da pequena filha que é sozinha e passa o dia inteiro na frente de um computador. Sim, eu sei que saio com a minha mãe às vezes para comprar roupas e que nos divertimos juntas... mas e no resto do tempo? Só se escutam gritos e portas batendo. E acredite, me jogar na cara as contas da casa não vai adiantar de nada! Eu não posso fazer nada quanto a isso. Eu já faço o que eu posso fazer, o que está ao meu alcance. Eu queria poder reunir a família inteira no domingo de meio dia para fazer um churrasco todos juntos. Avós, tios, primos, irmãos, padrinhos, madrinhas... todos! Será que nos custa demais juntar toda a família para conversar e passar o domingo juntos falando besteiras? Será que é difícil demais encontrar o resto da família num dia de sol para falar como anda a vida? Acho que é demais para todos, já que nunca o fizemos!
E o que eu vi ontem me fez pensar sobre tudo isso e me questionar sobre mais coisas.
Só não gostei do momento em que notei isso (ninguém gostaria), mas eu os admiro demais!
Ante-ontem às 10 horas havia falecido Dona Carmen Macedo dos Santos, mãe de oito filhos e avó de mais muitas crianças. O clima no bairro estava horrível. Não havia aqui uma pessoa que não a conhecia e admirava! Sempre bem humorada e uma coisa que ninguém estava esperando, afinal, ela havia saído da cirurgia, que havia corrido muito bem e ela já estava no quarto conversando com seus filhos. Quando a notícia foi dada eu não acreditei. Foi a coisa mais inesperada! Como alguém podia imaginar que isto aconteceria? E a ficha ainda não havia caído para mim. Eu ainda não havia falado com ninguém da família. O dia correu normal para mim. Com aquele sentimento ruim, é claro. Mas eu dormi. E no dia seguinte fui para a escola durante a manhã, tudo normal. Quando cheguei em casa me lembrei de que tinha curso a tarde. Comecei a me arrumar e fui esperar o ônibus. Quando cheguei na parada eu olhei para frente e vi todos aqueles carros ao redor da capela. Então resolvi ir até lá. Até ali a ficha ainda não havia caído! Eu tive de olhar para acreditar.. para entender que não era brincadeira, que não era mentira! Ela estava deitada. Branca. E totalmente diferente de como eu a conhecia! Ela não estava com aquela expressão de todos os dias de quem havia recém acabado de fazer um bolo de chocolate para seus netos e amigos. Ela estava simplesmente diferente! E foi então que as lágrimas começaram a chegar. Eu as senti descendo por meu rosto. Uma sensação horrível essa de perder alguém. Então eu olhei mais ao lado e lá estava uma de suas filhas abraçada ao corpo, chorando e gritando 'vocês que ainda tem mãe, cuidem dela, porque Deus levou a minha!'. Não consegui mais ficar lá. Doía olhar aquela cena. Saí de lá com o rosto lavado. O pior de tudo foi saber do que ela havia morrido e pensar que isso não poderia ser só com ela. Eu sei que este é o texto mais desagradável que escrevi até hoje. Que todos aqueles que eu havia escrito antes foram de amor, de amizade, de felicidade e agora eu simplesmente mudo meu rumo para um texto assim. Só quem perdeu alguém especial sabe como é o sentimento. Eu precisava desabafar! Precisava ter alguém para contar isso...
Mas a cena de família unida eu vi na igreja. Na verdade não vi, me contaram.. pois eu não estava presente no momento! A missa inteira os filhos, os netos, os irmãos, o marido, todos, ficaram de pé ao redor dela. No enterro todos ficaram até o final. E não queria sair de lá depois. Todos, sem nenhuma excessão, eram ligados a ela. Eram unidos em todos os sentidos. Dona Carmen! Até eu que não a conheci tão bem quanto gostaria sinto falta!
E foi no momento em que fiquei sabendo disso que me questionei o porque de minha família não ser tão unida quanto aquela. Só nos uniremos quando acontecer alguma tragédia? Ou será que nem assim vamos enxergar que a hora de todos chegam e que temos que amar incondicionalmente todos os dias?
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